É cada vez mais frequente – praticamente sempre que estou com pais de crianças mais pequenas (entre os 4 e os 10 anos) – ouvir falarem da sua dificuldade em reduzir o tempo que os seus filhos passam em frente aos ecrãs, sendo que, atualmente, o mais comum é referirem-se ao telemóvel. Hoje em dia já não é raro haver crianças com menos de 12/13 anos terem o seu próprio telemóvel e se isso, por um lado, facilita a vida aos pais, por outro, e se usado em excesso, pode prejudicar o desenvolvimento saudável das crianças.
A verdade é que o simples ato de entregar um telemóvel a uma criança acarreta vários riscos e perigos, exigindo uma grande responsabilidade por parte da mesma, já que é esta que passa a decidir os conteúdos a que acede, em que momentos o faz e durante o tempo que deseja. Este passa a acompanhar a criança nas suas rotinas de escola, ATL, refeições, pelo que nesses contextos a intervenção dos pais é praticamente nula.
Deste modo, é possível que uma má gestão do seu uso leve a um consumo exacerbado que traz consigo inúmeras consequências, tais como: as dificuldades de socialização, o isolamento, a depressão, a ansiedade, a impulsividade, a dependência ao aparelho, a quebra na conexão familiar, a agressividade, o baixo rendimento escolar, os problemas de memória, atenção e concentração, os problemas de sono – para além de todas as consequências físicas. Para vos dar uma ideia da quantidade de tempo em frente aos ecrãs que é adequada a cada idade, partilho convosco as diretrizes da Academia Americana de Pediatria:
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Idades inferiores a 18 meses: evitar qualquer uso de tela.
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Idades entre os 18 e os 24 meses: no máximo 30 minutos por dia, pelo que os conteúdos devem ser de qualidade/educativos e assistidos em conjunto com os pais.
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Idades entre os 3 e os 5 anos: no máximo 1h por dia, pelo que os conteúdos também devem ser de qualidade/educativos e assistidos em conjunto com os pais.
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Idades entre os 6 e os 18 anos: no máximo 2h por dia.
Parece que não restam dúvidas sobre o facto das nossas crianças utilizarem o telemóvel e/ou ecrãs de forma excessiva ou não aconselhada, pelo que se torna necessário limitarmos o tempo que estas passam em frente a estes dispositivos. Assim, passo a citar 6 passos para o/a ajudar a limitar o tempo que a sua criança passa ao telemóvel:
1º Passo: Comece por explicar à criança ou adolescente que está preocupado/a com o tempo que este passa ao telemóvel e que receia as consequências. Partilhe alguns exemplos com o seu filho, adequando-os à idade do mesmo e procurando consciencializá-lo para os riscos. 2º Passo: Encontre soluções com a ajuda da criança. Ouça o que esta tem para dizer, adequando as suas sugestões à vossa realidade. O objetivo não é que a criança tente justificar-se quanto ao tempo que passa em frente aos ecrãs e o convença de que o tempo está adequado, mas sim que juntos encontrem soluções que levem à limitação desse tempo. Pode, ainda, antes desta conversa, pensar em sugestões e partilhá-las com a criança. 3º Passo: Após a reflexão sobre estas soluções, os pais devem expor a sua decisão final quanto às alternativas a serem colocadas em prática para efeitos de redução do tempo passado ao telemóvel. É de realçar que a criança não tem de concordar com tudo o que os pais decidirem, no entanto deve participar no debate e sentir que o seu ponto de vista foi levado em consideração. 4º Passo: Para além da conversa sobre os malefícios deste comportamento e implementação das soluções, os pais podem procurar estabelecer novos hábitos na rotina dos mais novos, para que o telemóvel possa passar para segundo plano. É comum as crianças chegarem da escola e pedirem para usar o telemóvel/tablet, pelo que é importante os pais proporcionarem a criação de hábitos mais saudáveis, como por exemplo, pedir à criança que o/a ajude a preparar o jantar, ou para colocar a mesa, ou para preparar a mochila do dia seguinte ou até mesmo a roupa que pretende vestir. 5º Passo: Definir um horário para a utilização do telemóvel/ecrãs de forma lúdica. Este passo aplica-se aos mais pequenos que apenas utilizam estes aparelhos quando os pais assim o permitem, pelo que consiste na definição de um horário/momento do dia no qual a criança possa usufruir destes aparelhos e no tempo definido pelos cuidadores. Importa salientar que no caso das crianças mais pequenas se deve evitar que a criança se faça acompanhar do telemóvel quando se desloca para outros contextos, como a casa de familiares e amigos, ATL e escola, pois é suposto que a criança aprenda a socializar, mas também a lidar com a frustração quando as coisas não correm como gostaria, sem ter o telemóvel como um escape para estes momentos. 6º Passo: No caso das crianças que já possuem telemóvel próprio poderá ser importante definir algumas regras que limitem o seu uso. Por exemplo, pode definir como regra a não utilização do telemóvel/ecrãs na hora das refeições, aplicando-se a todos os membros da família (sim, os pais estão incluídos! Nunca se esqueça que é o exemplo para tudo). Para além da hora das refeições, outra sugestão pode ser não utilizar estes aparelhos pelo menos 1h antes da hora de dormir, de forma a permitir uma boa qualidade do sono.