Dependência aos ecrãs: como evitar?

Já todos estamos familiarizados com os efeitos nefastos provocados por uma má gestão do uso de ecrãs, por isso importa agora conhecer formas de evitar algum tipo de dependência. Assim, venho apresentar-vos alguns exemplos de medidas que podem implementar nas vossas rotinas familiares.

Em primeiro lugar, algo que se pode fazer desde cedo é evitar deixar o telemóvel acessível às crianças. Para isto acontecer, também é necessário que os pais/cuidadores deixem os seus telemóveis de parte enquanto estiverem a interagir com elas. Se o objetivo for entreter a criança com música ou até um vídeo (mesmo que educativo), optar por colocar na televisão ou num tablet, por exemplo, evitando, deste modo, que a criança associe os vídeos/música ao telemóvel da mãe/pai. Porém, antes de o telemóvel ser usado para entreter a criança, devem-se esgotar primeiro outras formas de distração.

Proporcionar à criança um lugar para as suas brincadeiras que seja diversificado em termos de materiais e conteúdos, mas que também estejam acessíveis e visíveis, para que a criança possa explorar e desenvolver a sua autonomia. À medida que a criança vai crescendo e os seus interesses vão mudando, é importante que os pais façam as adaptações necessárias ao espaço, mas mantendo sempre à disposição várias opções de atividades. Algo que ajuda a criança a manter o interesse nas suas brincadeiras é saber que existem momentos estipulados para poder usufruir dos ecrãs e não sempre que quiser, pois, se assim fosse, os ecrãs seriam sempre os escolhidos. Já parou para refletir se até nós adultos, por vezes, perdemos mais tempo ao telemóvel do que aquele que gostaríamos simplesmente porque nos perdemos no meio de tantos estímulos, como é que será no caso das nossas crianças? Ao contrário de nós, elas não têm autocontrolo suficiente para dizer “basta”.

Para auxiliar os pais nos momentos em que se encontrem fora de casa com as suas crianças pode ajudar terem sempre uma mochila de reserva, por exemplo, com alguns brinquedos, livros, desenhos, lápis de cor, etc., para que estejam sempre preparados para o caso de a criança precisar de algum tipo de entretenimento, evitando, assim, o recurso a ecrãs.

Quando decidirem que está na hora da criança/adolescente ter o seu próprio telemóvel, é importante explicar-lhe o que é que isso implica, nomeadamente as suas responsabilidades, mas também juntos definirem algumas regras. As regras podem estar relacionadas com o tipo de aplicações que a criança pode ter, em que momentos pode usar ou não o telemóvel e durante quanto tempo, se terá controlo parental e em que sentido, entre outras. Sempre que a criança/adolescente revelar dificuldades em gerir o uso do telemóvel, é necessária uma nova conversa sobre o que não está a correr tão bem, relembrarem as regras e/ou até definirem novas. No caso da criança não se mostrar capaz de gerir esta nova responsabilidade, ela sabe que o telemóvel lhe poderá ser retirado.

Para finalizar, é de realçar a importância de incentivar a criança e adolescente à prática de um desporto ou atividade extracurricular que seja, obviamente, do seu interesse e à continuidade das atividades que sempre fizeram parte da sua vida, como os momentos em família, a ler, a desenhar, a pintar, a escrever, a dançar, a ouvir música, a cantar, a imaginar, a criar, a SER…

Embora a dependência aos ecrãs não seja abrangida pelo DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição), alguns autores da comunidade científica chegaram a um consenso quanto àqueles que podem ser os critérios para diagnóstico e os quais passo a citar:
  1. Uso excessivo da internet que envolve a perda de noção do tempo que é despendido nessa atividade, a negligência de atividades básicas e a crescente importância da internet no sistema de valores pessoais do adolescente;
  2. Sintomas de abstinência, nomeadamente as mudanças de humor e a expressão de raiva, depressão e ansiedade quando não é possível o uso da internet;
  3. Tolerância quando é visível a necessidade de passar cada vez mais tempo na internet em resposta à necessidade de aliviar sintomas emocionais negativos;
  4. Consequências negativas associadas ao uso excessivo da Internet, como a perda de hobbies e ocupações anteriores, a perda de relações sociais, a interferência no rendimento escolar, o isolamento social, a tendência para conflitos e mentiras no que diz respeito ao uso da internet.

Se reconhecer algum destes sinais na sua criança ou adolescente será importante repensar sobre o tempo que ele/a passa em frente aos ecrãs e tomar medidas. Por outro lado, é de realçar que sempre que se verificar um mal-estar clinicamente significativo ou um comprometimento na vida da criança/adolescente, seja no domínio familiar, social, escolar ou noutros, deve procurar ajuda de um profissional.

 

 

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