Abordar o tema da imagem corporal na adolescência é de extrema importância, já que os estudos mostram que é o conceito com mais impacto na formação da identidade geral do adolescente, de entre outros fatores como a competência académica, a popularidade, a aceitação social e as experiências românticas. De facto, sendo uma fase que exige uma atenção especial ao corpo, que está em mudança, seria de esperar que a forma como os adolescentes percecionam essas alterações fosse moldar os conceitos criados em relação ao seu aspeto, assim como a sua própria identidade.
É também do conhecimento geral que a identidade assume uma maior relevância no período da adolescência à luz da Teoria Psicossocial do Desenvolvimento Humano de Erik Erikson, mesmo que seja construída ao longo de todo o ciclo vital. Por ser uma fase de transição da infância para a idade adulta, esta é caracterizada como “um período natural de desenraizamento”, em que o adolescente já não se sente uma criança, mas ainda não é um adulto. Deste modo, é-lhe exigido que reflita sobre quem é e como se enquadra na sociedade, tendo em conta tudo o que sabe acerca da sua vida e de si próprio, construindo, assim, uma imagem de si unificada e com significado.
Neste sentido, estudar as possíveis influências que as relações familiares, com os pares e amorosas têm na forma como os adolescentes olham para o seu corpo é essencial, para que ao tomarmos consciência das mesmas, possamos contribuir para um desenvolvimento saudável da imagem corporal e, consequentemente, da identidade.
A família
Apesar de a adolescência ser uma fase em que há uma aproximação ao grupo de amigos e um afastamento aos membros da família, a relação que os adolescentes mantêm com os familiares, em particular com os pais, pode impactar o desenvolvimento da sua imagem corporal. Mais especificamente percebeu-se que baixos níveis de expressividade de emoções por parte dos cuidadores contribuíram para a insatisfação corporal dos adolescentes. Estudos mais prolongados no tempo mostraram, ainda, uma ligação entre baixo suporte parental e aumento posterior da insatisfação corporal no adolescente. As influências parentais parecem ser mais significativas quando são explícitas, como por exemplo encorajar ativamente o adolescente a perder peso ou a envolver-se em planos de dieta. No entanto, é possível influenciar esses mesmos comportamentos de forma indireta, isto é, por observação do comportamento dos pais.
Os pares
As relações mantidas com os pares, nesta fase da adolescência, também merecem especial atenção, pois se por um lado possibilitam a identificação, por outro trazem consigo a necessidade de validação e aceitação por parte do grupo. De facto, a literatura mostra-nos que tanto raparigas como rapazes falam com os seus amigos sobre a sua aparência física e tentam modificá-la consoante o feedback que recebem. Ainda, ouvir comentários negativos dos outros sobre o seu próprio corpo será particularmente prejudicial para o desenvolvimento da imagem corporal e poderá ter consequências a longo prazo para o desenvolvimento do autoconceito e das relações interpessoais.
As relações de namoro
Os estudos nesta área mostraram que os adolescentes mais satisfeitos com o seu aspeto físico consideravam que os seus parceiros amorosos também estavam satisfeitos com o mesmo (ou vice-versa). Por outro lado, adolescentes que sentiram uma pressão por parte do parceiro para serem mais magros mostraram insatisfação com o corpo e comportamentos alimentares disfuncionais ao longo do tempo. Alguns autores chegam mesmo a sugerir que os parceiros românticos não só moldam a imagem corporal, como também influenciam a vulnerabilidade para os comportamentos alimentares disfuncionais e para a saúde psicológica em geral. No entanto, a literatura também já revelou que as relações amorosas podem desempenhar um papel positivo no desenvolvimento da imagem corporal, desde que os parceiros românticos tenham uma comunicação de apoio e suporte relativamente ao corpo do seu parceiro.
Em forma de conclusão, não esquecer que a exposição a conteúdos que envolvem imagens relativas a um corpo ideal, magro e musculado, está associada ao surgimento das preocupações relacionadas com a imagem corporal. Assim, promover a consciência nas crianças da existência destas ideias irrealistas sobre a beleza, evita a internalização de conceitos desajustados e, consequentemente, o surgimento de uma imagem corporal negativa.