A Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção é o quadro de neurodesenvolvimento mais prevalente em crianças em idade escolar. As dificuldades atencionais, a impulsividade e o excesso de atividade motora têm consequências negativas a nível académico, emocional e psicossocial que carecem de uma intervenção adequada, coesa e precoce. Consequentemente, torna-se importante a implementação, nos contextos de vida diária, de estratégias e adequações que contribuam para mitigar as dificuldades enfrentadas por crianças com este diagnóstico.
Encorajamos, por isso, a implementação das estratégias que se seguem para promover um ambiente familiar mais tranquilo e promotor de um desenvolvimento feliz:
Implemente rotinas consistentes
Desenvolva rotinas simples. Rotinas simples são tarefas pequenas e realizáveis que a criança repete diariamente. Uma rotina simples para dormir pode incluir lavar os dentes e preparar as roupas para o dia seguinte. Uma rotina simples na hora das refeições pode envolver guardar os brinquedos e colocar o prato dentro da banca. O uso de rotinas simples pode ajudar a criança a concentrar-se e a concluir a tarefa em questão, o que ajuda a aumentar a confiança nas suas capacidades. Coloque um calendário ou uma listagem das rotinas num sítio de passagem e promova, também, a autonomia da criança.
Crie estrutura
A criação de um ambiente estruturado pode ser muito útil para ensinar a criança a perseverar apesar das dificuldades atencionais e/ou da agitação psicomotora. Divida as tarefas mais desafiantes ou monótonas em pequenas partes para que estas se tornem mais fáceis de concretizar aos olhos da criança. Faça com que o primeiro passo seja fácil o suficiente para que a criança não se sinta imediatamente desmotivada e ofereça uma recompensa logo após a execução do mesmo. O incentivo está presente para assegurar que o esforço da criança para completar cada passo traz benefícios.
Dê muitos elogios
O elogio pode dar motivação à criança para iniciar uma tarefa difícil ou aborrecida ao mesmo tempo que contraria a visão menos positiva que poderá ter sobre si própria devido aos vários comentários negativos que já recebeu. Se notar que a criança está a fazer algo positivo, elogie-a exatamente porque aprecia o que ela está a fazer, independentemente de estar ou não perfeitamente executado. Este elogio mostra à criança a razão do seu sucesso e reforça o seu comportamento, contribuindo significativamente para a promoção da autoestima.
Use consequências naturais
Na PHDA, a disciplina precisa de ser consistente, simples e firme. Crianças com PHDA têm mais dificuldade em relacionar os seus comportamentos às respetivas consequências, daí a importância do estabelecimento de regras, limites e consequências. Por exemplo, se a criança não gere o tempo de jogo adequadamente e, por isso, não completa os trabalhos de casa, a retirada do privilégio de jogar para lhe dar tempo para concluir os trabalhos de casa seria adequada. Lembre-se que a criança não comete erros intencionalmente, por isso, seja gentil e compreensivo ao discipliná-la.
Troque o negativo pelo positivo
É habitual as crianças com PHDA exibirem uma série de comportamentos ou dificuldades que são difíceis de gerir. Por isso, é provável que passe grande parte do tempo a reorientar a sua atenção ou a corrigir os comportamentos menos positivos. Procure mudar o foco, elogiando e reconhecendo os avanços da criança sempre que possível, ainda que estes possam não ir de encontro às suas expectativas.
Promova competências sociais, pessoais e de autorregulação emocional
As características da PHDA impactam, frequentemente, a capacidade de a criança se relacionar com os outros e de autorregular as suas emoções. A dificuldade em aferir as consequências das suas ações durante as brincadeiras, a impulsividade, ou a relutância em aceitar a opinião dos outros interfere significativamente nas relações com os pares e adultos. Estas dificuldades podem, por sua vez, conduzir a períodos de desregulação emocional. A desregulação emocional está presente quando a criança tem dificuldade em registar emoções, responder com emoções ajustadas ao contexto e regular as suas respostas emocionais em contextos sociais. Por isso, é importante desenvolver, com a criança, estratégias que a ajudem a melhorar as suas competências de regulação emocional (por exemplo, contar até 10, ir 5 minutos até ao cantinho da calma) e rever estratégias de resolução de problemas (por exemplo, refletir sobre os prós e contras de uma decisão ou como agir perante uma situação específica) de forma a promover relações sociais e competências pessoais mais ajustadas. Procure desenvolver estas competências em momentos de calma e tranquilidade para que a criança as consiga implementar nos momentos de maior desregulação.