A Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA) pode tornar o ambiente escolar particularmente desafiante para muitas crianças. As dificuldades em manter a atenção, controlar impulsos e gerir a agitação motora refletem-se no desempenho académico, nas interações sociais e no bem-estar emocional. No contexto de sala de aula, estas crianças podem ter dificuldades em seguir instruções, completar tarefas ou manter a concentração durante longos períodos, o que, por sua vez, pode gerar frustração para alunos e professores. Além disso, a impulsividade conduz, frequentemente, a conflitos com os colegas, afetando as interações sociais e a autoestima.
No entanto, com estratégias adequadas, estes desafios podem ser transformados em oportunidades para desenvolver competências essenciais. Ao promover um ambiente estruturado, utilizar métodos de ensino diferenciados e fomentar a autorregulação, é possível potenciar o sucesso escolar e interpessoal destas crianças. Neste artigo são exploradas estratégias práticas que podem ser implementadas no contexto educativo para ajudar as crianças com PHDA a superar dificuldades e a valorizar as suas capacidades únicas.
ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS
- Sentar a criança na frente da sala, perto do professor, ladeada por colegas calmos e com bons resultados escolares que possam servir de modelos positivos e ajudar na conclusão das tarefas. Contudo, deve estar longe das áreas de passagem e de outros elementos propícios a distrações (ex.: aquecimento/ar condicionado ruidoso, portas, janelas, zonas de afiar lápis).
- Procurar agendar o maior número possível de conteúdos académicos para a parte da manhã, deixando as atividades mais ativas e não académicas para o período da tarde.
- Organizar o espaço de trabalho, permitindo que a criança tenha em cima da mesa apenas o material necessário para realizar uma atividade específica, ficando o restante arrumado na mochila.
ADAPTAÇÃO DAS TAREFAS DE APRENDIZAGEM
- É fundamental que as tarefas sejam apresentadas de forma simples, com instruções curtas e objetivas, numa série de passos encadeados, com o intuito de facilitar a adaptação e organização. Por exemplo, poderá entregar à criança apenas uma folha da ficha de trabalho de cada vez, para que ela não se sinta sobrecarregada. À medida que a criança for concluindo as atividades, o professor poderá aumentar, gradualmente, a extensão e grau de complexidade das mesmas.
- Pedir à criança que repita a informação que lhe foi dada pelas suas palavras para garantir que compreendeu as instruções.
- Estabelecer contacto visual sempre que for necessário dar informações importantes que é necessário que a criança recorde.
- Feedback: dar à criança informação suficiente quanto ao trabalho que realiza, para que esta possa estar consciente da adequação ou não das suas respostas.
- Usar informação visual (ex.: gráficos, tabelas, listas de verificação) para que a criança saiba as tarefas que deverá completar ao longo do dia, promovendo a sua capacidade de organização, autonomia e autorregulação.
- Os trabalhos de casa devem incidir no essencial e ser frequentes, mas não extensos. O período de atenção que a criança será capaz de suster ao final do dia deverá ser considerado.
GESTÃO DO COMPORTAMENTO E PROMOÇÃO DO SUCESSO
- Definir, com clareza, as regras da sala de aula. Estas devem ser em número reduzido e repetidas frequentemente para ajudar a criança a cumpri-las mais facilmente (pode usar cartazes ou outros estímulos visuais para relembrar as regras para que não seja necessária a sua repetição). Estas regras devem ser positivas e concretas (ex.: Em vez de “Dentro da sala não se corre!” → “Andamos devagar dentro da sala.”; em vez de “Não grites!” → “Vamos falar baixinho.”; em vez de “Não te portes mal!” → “Ajuda-me a apagar o quadro.”
- As consequências não devem ser publicamente humilhantes. Gestos ou sinais previamente combinados podem ser formas de fornecer avisos sobre o seu comportamento antes que sofra as consequências (o aviso ajuda a promover o autocontrolo). Também se podem combinar sinais para comunicar o feedback positivo para os comportamentos desejados.
- Alternar os momentos de trabalho com momentos de pausa e programar atividades que permitam que a criança se possa expressar corporalmente ou relaxar e participar ativamente (e.g. apagar o quadro, arrumar a sala, fazer recados…).
- Quando possível, permitir que explique conceitos a outra criança para valorizar o seu empenho na sala de aula.
- Comportamentos disruptivos, menos graves, devem ser ignorados.
- Verificar os níveis de tolerância do aluno e ser compreensivo perante sinais de frustração.
PROMOÇÃO DA MOTIVAÇÃO E AUTOESTIMA
- Utilizar o reforço positivo, sempre que tal se justifique (ex.: criar uma caderneta de bom comportamento; colocar uma cartolina na parede para pintar pontos ou estrelas de cada vez que a criança termina uma tarefa; atribuição de pontos, que se podem traduzir em pequenos prémios, de cada vez que a criança seja capaz de terminar uma tarefa (ex.: uma tarefa concluída equivale a uma estrela; três estrelas permitem que a criança escolha um jogo lúdico-pedagógico para realizar com os colegas e com a professora).
- Partilhar com a criança sentimentos positivos, como a sensação de terminar os trabalhos de casa ou de completar uma tarefa sozinho, com o intuito de aumentar o sentimento de autoeficácia e, consequentemente, a motivação e sucesso escolar.
- Reconhecer e elogiar: progressos na realização das tarefas escolares e tempos de concentração mais longos, mesmo que inferiores ao esperado, devem ser reconhecidos, de forma a motivar a criança a manter o esforço (ex.: “Estás a ver como consegues!”).
- Reforçar os comportamentos e desempenhos adequados em público e em privado.
- Os comentários sobre a falta de atenção devem ser positivos e construtivos: “Lembra-te do que deves fazer” ou “Já terminaste?” ao invés de negativos: “Estás nas nuvens, não estás a fazer o teu trabalho…”.
- Dar oportunidades à criança de demonstrar o desempenho nas suas áreas fortes, evitando solicitar que execute publicamente uma tarefa em que provavelmente não será bem sucedida.
- Evitar castigos que prejudicam ainda mais a criança como “não ir ao recreio” ou a marcação de trabalho adicional.