Conhecer o Comportamento Desafiante de Oposição

O aumento de casos de crianças com a Perturbação Desafiante de Oposição (PDO) já vem a ser notado pela comunidade científica há alguns anos e desde então que o tema tem sido amplamente estudado no sentido da sua compreensão, mas também no desenvolvimento de uma intervenção eficaz.

A Perturbação Desafiante de Oposição refere-se a um padrão frequente e persistente de humor zangado/irritável, comportamento desafiante/conflituoso ou comportamento vingativo, que dura pelo menos 6 meses, caracterizado pela presença de pelo menos 4 sintomas de qualquer de uma das seguintes categorias que ocorrem durante a interação com pelo menos um indivíduo que não seja irmão ou irmã:

 

Humor Zangado/Irritável

  1. Com frequência perde o controlo.
  2. Com frequência é suscetível ou facilmente incomodado pelos outros.
  3. Sente frequentemente raiva e ressentimento.

Comportamento Conflituoso/Desafiante

  1. Discute frequentemente com figuras de autoridade ou, no caso de crianças e adolescentes, com adultos.
  2. Com frequência, desafia ou recusa cumprir pedidos de figuras de autoridade ou regras.
  3. Com frequência, aborrece deliberadamente as outras pessoas.
  4. Com frequência, culpa outros pelos seus erros ou mau comportamento.

Comportamento Vingativo

  1. Foi rancoroso ou vingativo pelo menos 2 vezes nos últimos 6 meses.

 

Em suma, inclui comportamentos específicos, tais como: explosões de raiva, teimosia persistente, resistência a instruções, falta de vontade de se comprometer, ceder ou negociar com adultos ou colegas, constante e intencional testar de limites e agressão verbal (e física, apesar de em menor grau). Estes comportamentos estão quase sempre presentes em casa e com pessoas que a criança conhece bem. Muitas vezes, ocorrem simultaneamente com sinais de baixa autoestima, de labilidade emocional, de baixa tolerância à frustração e utilização de palavrões.

Apontado como uma das Dificuldades Emocionais e Comportamentais, o Comportamento Desafiante de Oposição resulta de uma interacção complexa entre características da criança com base genética ou biológica (predisposições) e circunstâncias ambientais ou contextuais. Em particular, o ambiente familiar e escolar contribuem em grande parte no ajustamento emocional e comportamental das crianças. Apesar da forte evidência de uma base biológica para o comportamento desafiador, os genes dependem, em última análise, das circunstâncias ambientais para a sua expressão.

Deste modo, os pais, ou cuidadores principais, são claramente uma importante via de influência no desenvolvimento infantil. Um número considerável de pesquisas mostrou os efeitos de várias práticas parentais, da psicopatologia parental, de problemas conjugais e de situações de conflito entre irmãos no desenvolvimento e persistência de problemas de comportamento em crianças. Os resultados indicaram que mães com níveis mais elevados de sintomatologia depressiva apresentavam taxas mais elevadas de utilização da punição física e as suas crianças exibiram mais problemas de comportamento. De facto, os estudos apontam que uma educação severa, punitiva, abusiva e/ou inconsistente é um fator de risco significativo para perturbações emocionais e/ou comportamentais. Por outro lado, pais responsivos e acolhedores foram associados a uma diminuição do comportamento de oposição. O envolvimento dos pais na vida dos filhos, nomeadamente, nas suas atividades extracurriculares, nas amizades, nos trabalhos escolares, entre outros, foi notado como uma capacidade parental crítica na redução de comportamentos disfuncionais.

Um elevado número de fatores ambientais também têm sido associados ao desenvolvimento de comportamentos desafiantes de oposição, sendo o mais importante o nível socioeconómico baixo ou pobreza, em parte, porque está altamente correlacionado a uma variedade de outros fatores de risco. De facto, elevados níveis de stress crónico, mães/pais solteiras/os, isolamento social, ambiente familiar pouco estimulante e acesso a poucos recursos podem prejudicar a saúde mental dos cuidadores e, consequentemente, influenciar as suas práticas parentais. Além disso, vizinhanças de nível socioeconómico baixo podem ser perigosas para o desenvolvimento saudável das crianças, já que as expõe a modelos de violência e/ou de abuso de substâncias, assim como a escolas com menos recursos. No entanto, nem todas as crianças que crescem em ambientes desfavorecidos desenvolvem problemas comportamentais. É por este motivo, que mais uma vez, os autores propõem um olhar mais complexo sobre esta problemática que contemple os múltiplos riscos que levam a diferentes caminhos no que respeita ao desenvolvimento infantil. Um estudo interessante neste contexto sugeriu que os pais com muitos fatores de risco na sua história de vida (como por exemplo, histórias de abuso infantil, abuso ou dependência de substâncias, criminalidade e depressão) podem ser mais vulneráveis às dificuldades associadas à pobreza do que aqueles que têm menos fatores de risco. Além disso, argumentam que uma parentalidade eficaz e positiva pode superar os efeitos negativos da pobreza.

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