Crianças nas Redes Sociais – Cuidado!

Se no artigo anterior falávamos em reduzir o tempo que as nossas crianças e adolescentes passam em frente aos ecrãs/telemóveis, hoje falamos dos perigos a que estas estão sujeitas quando utilizam redes sociais. Apesar das redes sociais exigirem uma idade mínima de acesso, a verdade é que esse obstáculo é facilmente ultrapassado, pelo que temos crianças com menos 12/13 anos a acederem a conteúdos não adequados e sem qualquer supervisão parental (muitas vezes, por acharem inofensivas).

É provável que já tenha ouvido, nos últimos dias, a notícia sobre Archie Battersbee do Reino Unido com 12 anos que se encontrava em morte cerebral desde Abril deste ano e que faleceu há alguns dias depois de ter participado num desafio do Tik tok em que consistia privar-se de oxigénio até desmaiar – chamado de “Blackout Challenge”. De facto, este desafio que se tornou viral em 2008 e que envolvia apertar o pescoço e suster a respiração até desmaiar, já provocou a morte a tantas outras crianças menores de idade.

O “Blackout Challenge” não é o único desafio perigoso viral das redes sociais. Já em 2016 se falava do desafio “Baleia Azul” que surgiu numa rede social russa e que rapidamente se dispersou por todo o mundo, tendo sido responsável por vários suicídios em adolescentes. Este desafio convencia os utilizadores a realizarem um conjunto de exercícios que culminavam no suicídio com o objetivo de acabar com a dor psicológica que estes estariam a sentir. Também em 2018 várias crianças e jovens se filmaram a comer cápsulas de detergente e recentemente também pudemos conhecer o desafio do mel congelado.

De facto, é possível que a maioria das crianças e adolescentes que se envolvem neste tipo de desafios estejam à procura de popularidade e de serem aceites pelo grupo, pelo que se antes das redes sociais isso exigia que saíssemos de casa e nos relacionássemos fisicamente com o nosso grupo de amigos, atualmente isso já não acontece. Nos dias de hoje, ser popular envolve ter um elevado número de seguidores, assim como de “likes” às publicações, pelo que as crianças e adolescentes tendem a imitar os perfis populares sem, muitas vezes, consciência e/ou espírito crítico sobre o que é ou não correto. Para não falar da pressão para ter o corpo de determinada forma, vestir determinadas roupas e até se comportar de determinada maneira que é exacerbada quando está à distância de um clique. Como seria de esperar, isto traz consequências devastadoras para a autoestima e autoconfiança.

Deste modo, mais do que proibir a utilização das redes sociais, à exceção de quando a criança de facto não tem a idade mínima necessária, é informar e alertar para os perigos, da mesma forma que os nossos pais nos alertaram para as situações de pressão de grupo para o consumo de tabaco ou drogas, por exemplo. Neste sentido, pode conversar com o seu filho/filha sobre os desafios que conhece, o que é que ele/ela acha sobre eles, se conhecem alguém que já o tenha feito, se já pensaram ou fizeram algo semelhante, se acham que tem consequências negativas ou não, entre outros. Mostre-se verdadeiramente interessado/a em conhecer os gostos e preferências do seu filho/filha no que diz respeito às redes sociais, assim como o seu ponto de vista e consciência moral. Para que se saia bem nesta tarefa é fundamental terem uma boa relação, para que o seu filho/filha se sinta confortável e seguro/a em partilhar esta informação consigo.

Além disso, este trabalho pode ser feito mesmo antes da criança ter redes sociais ou sequer um telemóvel, pois quando casos destes se tornam públicos pode ajudar conversar sobre eles junto da criança/adolescente, explorando as possíveis motivações da vítima, a gravidade dos seus comportamentos, as consequências dos mesmos e alternativas saudáveis.

Outra forma de preparar os seus filhos é através do seu exemplo. Pode conversar com eles e até pedir-lhes uma opinião sobre determinado aspeto das suas redes sociais, procurando transmitir-lhes os seus valores. Juntos podem refletir sobre uma variedade de assuntos, como por exemplo: o que é que acham sobre a forma como algumas pessoas usam o digital para maltratar outras; o que fariam se alguém que não conhecem iniciasse uma conversa; o que acham sobre partilharmos tanta coisa da nossa vida e o que é que poderá ou não fazer sentido partilhar; que tipo de pessoas pretendem tê-los a seguir e que tipo de pessoas seguiriam de volta; e, acima de tudo, quais são as suas intenções no que diz respeito ao uso das redes sociais – é para manter de perto as amizades? É pela popularidade?.

 

 

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