A influência da Parentalidade na Ansiedade Infantil

Os comportamentos parentais têm vindo a ser estudados como fatores importantes para a origem e manutenção das perturbações de ansiedade nas crianças, pelo que urge a necessidade de se falar sobre eles como forma de prevenção, mas também de atuação.

De facto, a interpretação das situações como ameaçadoras e o padrão de comportamento de luta ou fuga são aprendidos pelas crianças dentro de um contexto relacional que envolve, não só os pais/cuidadores, mas também irmãos, professores e os pares/colegas, sendo que todos eles podem representar para a criança importantes modelos a seguir.

Neste sentido, apresento, de seguida, alguns comportamentos/atitudes que influenciam negativamente a forma como a criança vive a sua ansiedade, podendo até contribuir para que a ansiedade se mantenha na sua vida.

Ansiedade dos Pais

Uma característica que tem recebido muita atenção por parte da comunidade científica diz respeito à ansiedade demonstrada pelos pais. As pesquisas mostram que uma parentalidade mais ansiogénica (i. e., que envolve comportamentos e atitudes parentais que aumentam a ansiedade na criança) explicam a presença de uma maior ansiedade infantil e resultados menos eficazes ao nível do tratamento. Este resultado é explicado pelo facto dos pais ansiosos serem menos calorosos, mais retraídos, de não contribuírem para a autonomia da criança (p.e., ajudam as crianças com as tarefas que já deveriam saber fazer sozinhas), e são mais propensos a reforçar crenças ansiogénicas (p.e., concordar com a criança que uma situação temida por esta é perigosa).

Sobreproteção

De facto, pais ansiosos, preocupados com tudo à sua volta e a quererem controlar tudo, para que os acontecimentos negativos não ocorram, vão conceder menos autonomia às suas crianças. Além disso, mães ansiosas e deprimidas têm tendência a ver os filhos como mais frágeis e/ou sensíveis, procurando protegê-los ao máximo.

Crenças

Por outro lado, não são os medos dos pais que são transmitidos aos filhos, mas sim o padrão de evitamento ou de fuga por parte dos pais face aos seus próprios medos ou até mesmo problemas. Este padrão pode, ainda, ser reforçado por um conjunto de crenças que são transmitidas, mesmo que inconscientemente, pelos pais através da interação com as suas crianças, tais como:

  • “Tudo o que é mau deve ser evitado” – exemplo: “Eu não te disse que te ias magoar?”. Transmite a ideia de que a criança está a sofrer porque quer, porque não evitou, visto ter sido avisada.
  • “Há perigos em todo o lado e devemos estar em alerta”. É, muitas vezes, transmitida a ideia de que o mundo é perigoso e que devemos estar com muita atenção para nos protegermos.
  • “É preciso ser-se perfeito ou, então, não se tem valor como pessoa”. Pais com esta crença tendem a ficar muito desiludidos e reativos em relação às falhas das suas crianças, originando tensão e preocupação na sua relação com estas. Além disso, crianças cujos pais apresentam crenças mais críticas sentem, normalmente, que os pais não gostam delas.
Regulação Emocional

Estudos recentes sugerem que os pais apresentam comportamentos parentais ansiogénicos como forma de reduzir o seu próprio estado de stress face à ansiedade mostrada pelas suas crianças. Por outro lado, as crianças ansiosas têm tendência a exibir uma pobre capacidade de regulação emocional, o que consequentemente fará aumentar os comportamentos ansiogénicos por parte dos pais.

Para terminar, é de salientar que as transições do ciclo de vida familiar e os eventos de vida causadores de stress dentro da família podem potenciar o aparecimento de problemas de ansiedade clinicamente significativos, sendo que estes problemas são, posteriormente, mantidos por padrões de interação familiar que reforçam as crenças relacionadas com a ansiedade e o comportamento de evitamento da criança. Estas transições podem ser, por exemplo, o início da escola, uma mudança de casa, o nascimento de um irmão ou crises familiares, como doença da criança ou parental. Nestas situações, a criança pode interpretar a transição ou crise como uma ameaça e adotar um comportamento de evitamento como forma de lidar com a situação ansiógena.

 

 

 

 

Deixar um comentário:

O seu email não será publicado.

Site Footer