Ao longo dos últimos anos, a gratidão tem sido o foco de estudo de muitos investigadores na área da Psicologia, já que parece desempenhar um papel importante ao nível da saúde, tanto física como mental. De facto, está comprovado que quando prestamos atenção a situações, gestos, palavras ou até pequenos detalhes que consideramos merecedores de agradecimento, o nosso cérebro reage, libertando dopamina – neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar, humor, prazer, entre outros. Por conseguinte, sentimo-nos mais felizes e satisfeitos.
A gratidão, definida como “uma resposta positiva a alguém que nos oferece um benefício pessoal de forma intencional”, tem vindo a ser estudada como um fator importante que estará a mediar a associação entre uma vinculação segura entre cuidadores-criança e o reduzido risco de a criança desenvolver sintomas depressivos. De facto, já vários estudos comprovaram a existência de uma associação entre uma relação de vinculação segura e o surgimento da gratidão como traço, ou seja, como uma característica da criança. Acredita-se que uma criança estabelece uma vinculação segura com os seus cuidadores sempre que experiencia, de forma repetida, suporte e apoio na satisfação das suas necessidades. Esta experiência individual iria suscitar um sentimento de gratidão da criança pela figura cuidadora que, com o passar do tempo, esta relação continuaria a desenvolver-se para outras figuras.
Estas são algumas das razões, pelas quais a gratidão tem sido tão debatida nos últimos anos, pelo que, sendo a depressão a perturbação mental mais comum e urgente de ser trabalhada na comunidade adolescente, nunca fez tanto sentido incluir a prática da gratidão também a nível da intervenção psicoterapêutica, tanto nas consultas com jovens, mas também com adultos. No entanto, a prática da gratidão pode e deve ser incluída nas nossas rotinas, não só pelo facto de nos possibilitar experienciar mais bem-estar e satisfação, como também permite que as nossas crianças possam desenvolver esta capacidade. De facto, um estudo mostrou que, quando pediam às pessoas para listarem uma série de coisas pelas quais estavam gratas, várias vezes por semana, o seu bem-estar psicológico aumentava significativamente.
Neste momento já deve estar a pensar como é que afinal pode praticar a gratidão e como pode ensinar à(s) sua(s) criança(s). Não se aflija, é muito simples! Basta implementar na sua rotina algumas das sugestões que apresento de seguida, pelo que a criança não tardará a imitá-lo/a. Além disso, existem já alguns materiais, como livros e atividades, pensados especificamente para as crianças treinarem esta capacidade. Finalmente, pode praticar a gratidão da seguinte forma:
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Viva mais o momento presente e permita-se tomar mais atenção ao que se passa à sua volta. Cada vez mais vivemos um ritmo de vida que não nos permite ter tempo para parar e apreciar as coisas mais pequenas e simples da vida. Dê-lhes mais atenção, agradeça e verbalize a importância das mesmas na sua vida.
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Faça um esforço para evitar queixar-se dos pequenos percalços da vida e verbalizar mais as pequenas surpresas. Também é sabido que todos nós somos mais propensos em reparar mais nos aspetos negativos dos acontecimentos do que nos positivos. Tomar consciência é o primeiro passo para aceitação e mudança.
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Faça uma lista de, pelo menos, cinco coisas pelas quais se sente grato/a. O ideal é que esta lista seja feita todos os dias ao final do dia e antes de dormir. Por vezes chegamos ao fim de mais um dia e é difícil de acreditar que não tenha sido mesmo apenas mais um dia, pelo que este exercício o/a ajudará a ver que todos os dias são diferentes, com valor e irrepetíveis.
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Expresse gratidão também pelas pessoas que o/a rodeiam. Todos nós vivemos em relação com os outros e nem sempre reconhecemos o seu valor ou importância para nossa vida. Ao expressarmos gratidão por estas pessoas, seja através de gestos ou palavras, também aumentará o nosso próprio sentimento de gratidão.